O presente artigo explora como o mundo do pet food evoluírá num futuro próximo e vindouro, identificando os principais temas que abrirão oportunidades relevantes para o setor.
Futuro próximo: o que impulsionará a inovação do pet food nos próximos dois anos?
Natureza versus ciência
A humanização dos pets alimenta a convergência de duas fortes dinâmicas: (i) a tendência dos tutores de pets a aplicarem suas próprias preferências alimentares para seus animais de estimação e (ii) a medicina veterinária como ciência. O movimento natural ganhou força nos últimos anos, já que os alimentos totalmente naturais para pets representavam 9% do mercado global em 2020, e o número de lançamentos de pet food cresceu 41% entre 2016 e 2020. Apesar disso, 72% dos consumidores de pet food do Reino Unido acreditam que os animais de estimação não devam seguir as mesmas dietas que as pessoas.
Por outro lado, os consumidores focam em sua própria saúde, e a nutrição holística e proativa refletirá suas aspirações para seus pets, gerando um interesse crescente em ingredientes botânicos de nicho e funcionalidades naturais.
No entanto, as dietas para pets permanecerão sob vigilância, pois os tutores de pets também estão cada vez mais indecisos em relação ao papel desempenhado pela dieta na saúde de seus animais de estimação (p. ex., dietas grain-free [isentas de grãos]). Nesse contexto, a Mintel prevê que as dietas baseadas na ciência atrairão os tutores de pets em todo o mundo que buscam por um valor nutricional para seus animais. Isso inclui, por exemplo, 76% dos tutores alemães que buscam promover ativamente a saúde digestiva em prol da saúde geral de seus pets, bem como 47% dos tutores norte-americanos que gostariam de ver um aumento na oferta de petiscos/alimentos para pets com valor nutricional agregado (2019).
Existem oportunidades para as marcas alcançarem um equilíbrio entre a natureza e a ciência. Com o acréscimo do conhecimento, os tutores de pets se tornarão mais criteriosos e exigentes na escolha da nutrição adequada para seus animais de estimação, criando novas oportunidades para as marcas alavancarem seus pontos fortes baseados na ciência. Como a funcionalidade está entre os principais fatores de eleição para muitos tutores de pets, as marcas devem aproveitar o potencial dos ingredientes botânicos e de outros ingredientes frequentemente promovidos por suas propriedades de “superalimentos” ou “adaptógenos” em alimentos e bebidas para humanos e convertê-los em alimentos para pets. Os adaptógenos se referem a ingredientes naturais, cujo claim é ajudar o organismo a se adaptar a estresse físico e mental.
A revolução felina
As pessoas estão cada vez mais optando por pets pequenos e fáceis de cuidar, sem compromissos sérios de “babá”. Os gatos são considerados como os pets mais convenientes e adequados para o estilo de vida agitado e atarefado da população urbana e, principalmente, dos homens. Também é mais barato manter os gatos que os cães. À medida que a geração dos millennials fortalecer o vínculo com seus gatos, as marcas de pet food darão mais atenção aos felinos, incentivando os tutores de gatos a investirem mais na saúde e na felicidade de seus animais de estimação. Por fim, algumas evidências científicas sugerem que os gatos proporcionem benefícios únicos à saúde emocional, psicológica (publicação do estudo PLOS, Franca, 2012) e até mesmo física (estudo conduzido pelo Instituto Stroke da Universidade de Minnesota em Minneapolis, 2008) aos seus donos.
A pandemia da COVID-19 deu um grande impulso ao comércio eletrônico, inclusive dos alimentos para pets, onde a tendência “direto ao consumidor” atingiu a indústria de pet food em grande escala. As marcas de pet foods com visão de futuro reinventaram as embalagens de alimentos para gatos, criando uma forte identidade visual e elevando os atributos distintivos de uma forma inovadora, ousada e minimalista. Por exemplo, a Smalls, uma start-up de alimentos para gatos direto ao consumidor, descreve a embalagem de seus produtos como legal, inovadora e simples, ao mesmo tempo em que mantém um enquadramento claro e bastante rigoroso das informações nutricionais com as quais os tutores de gato se preocupam.
Um futuro verde
O número de lançamentos com claims éticos e ambientais está crescendo no ramo de pet food, chegando a 21% de todos os lançamentos desse tipo de alimento em 2020 em nível mundial. A conscientização e o interesse por esse espaço deverão registrar um aumento, com um número maior de tutores de pets se interessando por opções ecológicas para seus cães e gatos. Por exemplo, em 2020, 53% dos consumidores de pet food do Reino Unido consideram atrativos os alimentos feitos com ingredientes sustentáveis. Isso também irá gerar um impacto em uma variedade de claims relacionados ao alto padrão de ingredientes, como o bem-estar animal, ou à ênfase em estratégias de abastecimento mais éticos e locais.
Também se tornará cada vez mais importante alinhar a sustentabilidade e a nutrição. A classificação de subprodutos da carne como indesejáveis ajudou a impulsionar a tendência à “Premiumização” da categoria, mas pode ter tornado mais difícil para as marcas Premium recorrerem a fontes mais responsáveis de proteína de origem animal, como os subprodutos. Um esforço notável nesse sentido é representado pelo produto Full Source da Merrick, um alimento descrito como “completo do nariz à cauda, com maior aproveitamento do animal para uma refeição sustentável e rica em nutrientes”.
Com vistas para o futuro, os tutores de pets também se concentrarão na pegada de carbono de seus animais de estimação. A start-up finlandesa Alvar Pet foi pioneira em identificar essa lacuna e oferece uma assinatura de pet food neutro em carbono para ajudar os tutores a reduzirem a pegada de carbono de seus cães, sem comprometer a qualidade nutricional do produto ou serviço. Alvar Pet atua de forma sustentável em todas as etapas da cadeia operacional, substituindo os ingredientes convencionais de alimentos para cães por ingredientes nórdicos de origem local.
Crescente popularidade das proteínas de origem vegetal e proteínas alternativas
Por último, mas não menos importante, os ingredientes à base de plantas e proteínas alternativas são um dos assuntos do momento e uma das tendências entre os fabricantes de pet food e estão se tornando mais populares nesse ramo do mercado de pets – principalmente por conta de seu menor impacto ambiental. Os fabricantes de pet food estão adotando novas fontes proteicas, comoalgas, leveduras e proteínas de insetos, apenas algumas das alternativas a serem consideradas. A start-up Aardvark com sede no Reino Unido, por exemplo, atraiu mais de 900 investidores em 2020 para financiar os planos da marca de trazer ao mercado alimentos “amigos do planeta” (i. e., ecológicos) para pets, elaborados com proteína sustentável de insetos. Nos Estados Unidos, a Jiminy’s apresenta pesquisas que mostram que a proteína de grilos mantém um microbioma intestinal (diversidade das bactérias do intestino) saudável e equilibrado em cães.
Quais serão as marcas inspiradoras nos próximos cinco anos e depois disso?
Melhoria das conexões emocionais
A tendência generalizada dos tutores de pets de se autoidentificarem com seus animais de estimação continuará a fortalecer o elo homem-animal, abrindo novas formas de conexão e oportunidades de engajamento em todos os setores desse ramo de atividade. Em busca de estímulos e conexões emocionais, os consumidores buscarão por produtos e experiências que atuem como uma espécie de convite para a formação de vínculos com seus amigos peludos de formas inovadoras e diferentes.
Em particular, prevemos que as principais marcas de alimentos e bebidas de nicho continuarão a explorar os meios de engajar os pets em categorias baseadas em indulgência ou petiscos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Ben & Jerry’s lançou recentemente uma nova linha de sorvetes exclusivamente para cães, enquanto a marca de bebidas Recess introduziu uma nova linha de produtos chamada “The Walk Collection”, a qual inclui petiscos com canabidiol (CBD) para cães. O Peru também experimentou recentemente o lançamento de “Doggy Pops”, um petisco congelado que pode ser consumido tanto pelos humanos como pelos cães.
Foco na saúde mental
Embora muitos estudos ainda estejam explorando o impacto da COVID-19 sobre o comportamento dos tutores de pets, existem indícios de que a pandemia também possa estar afetando os animais de estimação. Por exemplo, um estudo britânico recente da Dogs Trust que avaliou o efeito da COVID-19 sobre os cães e seus donos constatou um aumento dos relatos de comportamentos indesejáveis dos cães durante o lockdown (i. e., confinamento). Também se prevê que muitos pets terão problemas relacionados à separação assim que eles se virem sozinhos em casa com o retorno de seus tutores ao trabalho.
Marcas e aplicativos inovadores já estão investindo no bem-estar emocional dos pets, particularmente dos cães. Por exemplo, a coleira para cães acionada por inteligência artificial com detector de emoções, desenvolvida pela start-up sul-coreana Petpuls Lab, analisa o som de latidos e o classifica em uma das cinco categorias de emoção: feliz, triste, ansioso, nervoso ou relaxado. O sistema de entretenimento doméstico Go Dogo, desenvolvido na Dinamarca, possibilita que os tutores de cães proporcionem estímulos mentais e atividades para seus pets. Os cães gostam de ganhar seu alimento e, por meio do sistema Go Dogo, eles podem resolver desafios estimulantes e divertidos em troca de petiscos.
Exploração do potencial da carne cultivada em laboratório
A proteína cultivada em laboratório para pet food tem se destacado bastante nos últimos anos. Empresas como Bond Pet Foods, Wild Earth e Because Animals estão trabalhando no desenvolvimento de várias tecnologias para o cultivo de carne em laboratório. Esses produtos atrairão particularmente os tutores pertencentes à geração dos millenials. De fato, no Reino Unido em 2020, 30% dos consumidores de pet food afirmam estar interessados em alimentos feitos com carne cultivada em laboratório, cuja aceitação atingiu o pico entre os jovens adultos de 16 a 34 anos.
Como muitos millenials já estão reduzindo seu próprio consumo de carne, é inevitável que eles também voltem sua atenção para os alimentos fornecidos a seus pets. Portanto, a real oportunidade para alimentos cultivados em laboratório para pets está em atender às preocupações dos tutores millenials com o meio ambiente e o bem-estar animal, fornecendo ao mesmo tempo uma nutrição ideal para seus animais de estimação.
A empresa Bond Pet Foods, por exemplo, tem feito experiências com biotecnologia para produzir alimentos ricos em proteínas para pets, mas sem carne de origem animal. A empresa implementa a mesma tecnologia de fermentação utilizada para produzir ingredientes na fabricação de queijos ou na produção de insulina para diabéticos, no lugar de proteínas da carne de alta qualidade, mas sem o animal. Seu primeiro produto, a Protein-Packed Dog Treat Bar, uma barra de petiscos para cães com alto teor proteico, é feito com proteína de carne cultivada, representando um suplemento sustentável e de alta qualidade às dietas existentes para cães.
Fonte de dados para o consumidor: Lightspeed / Mintel
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